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Foto do escritorYuri Cidade

O Uivo

Dissipou, assoprou e soprou meu assobio de um dia que me acorda em meio a horda rotineira. Nem beija-flor ou mangueira, a percussão é só o som do caos orquestrado. Sequestrado pelos meus pensamentos, carnaval o ano inteiro, deixo que o cimento se misture com meu café, na esperança vã que eu enrijeça meu ser e continue de pé. Falta fé pra tantos santos, mães pra tantos prantos e sobra descaso por todos os cantos. Entre silêncios e cânticos, me adianto. Pulo no tempo e volto correndo pro ponto de partida, procurando infinitamente uma saída. Abro portas e janelas, me esgueiro pelos buracos e vielas, visando a fuga perfeita para se encontra comigo mesmo. O peso é caro. Quanto valho? É por peso ou por cabeça? Adormeça, espessa nos suaves cobertores do limbo, minha criança. Deixe que a esperança seja apenas o fruto da motivação necessária para o ser se manter em trajetória. O agora é seu único tempo. Esqueça os sagrados sacramentos e foque apenas na próxima dose de veneno que tomarás ao beijar minha boca. “E se a alma for oca?” Tão vazia só será, se deixar o pensamento permanecer inerte. O conhecimento ferve por entre meus neurônios e páginas, as várias faces de um ser que não tem vergonha de cair em tentação. Só haverá coração, se meu cérebro continuar a pulsar. Ah meu vasto mar, que diante dos meus sentidos se apresenta. Se meu bolso diz aguenta, meu corpo pede clemência pelas vezes que não consegui me desligar. De par em par o homem se extingue, ao relativizar sua existência a uma alheia. Hipnotizado pelo canto da sereia, continuo a blasfemar na próxima santa ceia. “Não tens medo de quem te odeia?” Prefiro o ódio a indiferença, pois é na manifestação dos fenômenos que se faz a minha crença: Existência! Amor e ódio caminham na mesma via. Tranquilidade e alegria, brindando minha adrenalina ao escrever em total estado de euforia. É um orgasmo quântico das possibilidades imaginadas. Em cada parada, uma noite de perversão. Nada é em vão e o tudo é ilusão. De antemão, eu já me esqueço da próxima linha. “São minhas! As palavras são minhas!” Pois estas são meu único jeito de vociferar meu ser diante de teus olhos e ao pé do teu ouvido. O perigo em gritar demais é acabar por não ser escutado, sendo taxado de retardado que só procura polemizar. Quero mesmo é expurgar meus demônios na tua leitura. Me conhecerás na minha forma mais pura, pois nestas orações não há lugar pra me esconder. Meu ser é um labirinto sem muros, onde tudo pode se ver, até mesmo no escuro, porém, é mais do que confuso. Desfiguro e desconstruo meu ego social, importando mais com meu ego individual, tendo a ser mais complacente com o coletivo, pois é na busca pelo conforto que eu vivo. Em meio ao apocalipse, eu admiro e admito minha ineficácia. Mas tudo se equilibra diante da minha audácia. Talvez eu já esteja extinto. Não minto, sou tão hipócrita e incorreto quanto qualquer ser. Da pra ver no meu olhar de quem quer roubar teus dizeres. Engabelar tua mente distorcendo o que vedes. Nas paredes, só o futuro mal passado em palavras presentes de um acaso consequente de atos desconexos. Fecho o livro, mas ele continua a me ler. De ser pra ser, paro de tentar resolver o enigma do prisma humano. Sou mundano mesmo e não me atenho a pedido de desculpa. Sem culpa eu vejo o céu desabar na minha cama, onde eu e minha dama nos permitirmos gozar sem qualquer pudor ou julgamento. Prendi os tormentos no guarda-roupas, deixei minha língua solta e me pus a desfrutar da vida. Entre encontros e amores de milênios, minha cabeça está a prêmio por da vida duvidar. Pecar ou não pecar? Amar ou não amar? Sinceramente, eu gosto mesmo é de errar. De que adiantaria te enganar, se o que quero é te devorar?

Yuri Cidade

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