Consciente de si, ponho-me a vontade do meu eu. E desconstruo todo e qualquer paradigma imposto por conceitos religiosos e dogmáticos, para fim de chegar ao mais profundo retrato de mim. Baseio-me na santa trindade consistente em: Personalidade, razão e instinto. Formando nesse trinômio a consciência necessária para poder afirmar que existo. Já diria Descartes: “Penso, logo existo!”. Existo e faço a diferença ao interagir com o ambiente que me encontro. Por mais pequenas que sejam nossas ações, ou omissões, as consequências além do limite da visão são extraordinariamente gigantescas. A mescla de ações que praticamos em conjunto com os demais seres, realiza uma necessidade que nosso ser tem em interagir e mudar. Somos mutantes, pois toda e qualquer rotina repetida nos cansa e nos dá a ânsia de mudar. Seremos pra sempre, fisicamente, o mesmo biotipo de ser, porém nosso cérebro jamais aceitará pensar a mesma coisa pro resto da vida. Jamais pensaremos igual à ontem. O amanhã será sempre a dúvida de uma resposta a ser descoberta, ou melhor, de uma pergunta a ser feita. Nenhuma lavagem cerebral consegue sobreviver à duvida. Por mais inertes ou acomodados que parecemos, basta apenas saber fazer a provocação certa para que tudo pensado até hoje escorra ralo a baixo. A maior dificuldade humana é aceitar. E talvez essa característica é o que nos permita sempre entrar em jornadas científicas, no sentido de pesquisa, para adquirir melhores meios de obter a plena aceitação do mundo conforme a felicidade que corre por nossas terminações nervosas. Porém, nosso grande problema é a pressa derivada do medo da morte. Por vezes atropelamos e estagnamos a mutabilidade por querer beber toda felicidade em um gole só com a velha maldição impregnada religiosamente à morte, e pior ainda, o prometido inferno aos que não seguirem as leis cristãs. Pobre diabo que vos escreve, pois nem acelero minha felicidade e nem temo ao inferno, pois não consigo enxergar nenhum tipo de lugar, físico ou espiritual, que seja capaz de queimar minha carne e me fazer sofrer pro resto da eternidade. Na real, o que seria a eternidade? O que é eterno? Eu respondo que nada é eterno. Nem mesmo a certeza da resposta que vos acabei de dar. O ser humano é a personificação da própria metamorfose do universo, pois age em conjunto com os demais elementos cósmicos adequando sobrevivência e harmonia para tornar a realidade o mais aceitável e confortável possível. Tudo e todos dissolvem-se como um comprimido na água assim que quebram as correntes do medo. Escapam de todo e qualquer controle, até o auto-controle, quando permitem-se duvidar sobre qualquer coisa que a visão e o pré-conceito que lhes incrustaram na ideia. A vida não é uma prateleira de supermercado com os produtos rotulados informando seu conteúdo. Somos uma caixa de surpresas, mas com um toque de caixa de pandora. Contemplemos a nós, a humanidade, o universo e todo e qualquer estado de consciência que nos permita duvidar e nos encontrar perdidos em meio a nós mesmos. Sejamos nós, e não algo pregado anteriormente em séculos passados, onde o conhecimento não era acessível. Temos que pertencer ao nosso tempo e não ao passado. Passado é somente um versão mais antiquada da humanidade. Como uma lanterna, usemos o conhecimento como fonte de luz, e inspiração, para enxergar a realidade, e ignoremos as sombras e ilusões óticas que a luz cria ao entrar em contato com o que dizem ser concreto. De concreto só minhas paredes, e olha lá! A evolução, a mudança ou a adequação de ambiente só serão possíveis quando deixarmos de ter certeza. Diante disso, entrego-me à dúvida, rezo aos santos abstratos da ciência e jamais hei de acreditar no exato, pois exatidão e eternidade são apenas conceitos criados para amenizar a dor de que tudo muda.
Yuri Cidade
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