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Foto do escritorYuri Cidade

Entre deuses, humanos e o diabo

De todas as vezes que colhi trovoadas, as mais atiçadas era as que vinham simplesmente do nada. A vida é como se fosse um grande carrossel, que por mais que você troque de cavalo, você estará andando em círculos. Às vezes mais rápido, outras nem tanto. De repente você até se sente confortável e cômodo, mas sempre existe algum filho da puta pra te tirar o sossego. Não os culpo. É o caos de todos nós. E uma hora esse caos individual se choca com outros, fazendo que você tenha que sobreviver a um apocalipse. E era assim, aquele ano foi bem estranho, apesar de já estar consolidada minha carreira.

Vendi livros, poesias, crônicas, textos, prazer e até drogas. Mas estava bem. Estava confortável e sóbrio. Ok, nem tão sóbrio. Vivia como o diabo gostava. Luxúria, soberba e principalmente muito pecado. Foda-se, religião nunca foi meu forte.

Nunca me esquecerei daquele dia. Era umas 8 da noite, eu estava acordando da minha terceira ressaca. Tomei um banho e sai para comer. Uma refeição, e se possível alguém. Foi quando encontrei Penélope. Uma antiga amiga minha, prostituta, que além de linda, tinha um papo esplendoroso. Afinal, independente de gênero, você não vai gostar de transar com alguém que não possa conversar na manhã seguinte.

-E aí, bicho? Tá fazendo o que essa noite? Novo romance? Digo, literário…

-E aí, querida? Tô só comendo alguma coisa. Ou alguém… Meu roteiro foi aprovado e as gravações começam em duas semanas.

-Fantástico! E vai rodar onde?

-A princípio venderam pra uma produtora da Califórnia… Mas não sei se gosto da ideia de sair daqui.

-Por que? Você não precisar virar um filho do Tio Sam. Vai lá, curte e volta. Pense em quantas orgias Hollywood pode te oferecer.

-Exatamente isso que está me fazendo continuar. Porém queria comemorar antes de ir. Você tá livre hoje?

-Então, meu amor. Não te contei. A mamãe aqui conseguiu grana suficiente, e um investidor, e montei um local para pessoas especiais…

-Como assim? Que local?

-É um clube privado. Magnatas de todos os lugares do mundo vem para meu clube.

-Um bordel?

-Bem melhor que isso! Só paga pra entrar e consumir. O resto, depende apenas do consentimento da pessoa.

-Me parece interessante… conte-me mais.

-Só você indo pra saber, meu bem. Porém, só entram um pessoas seletas. Dispostas a exteriorizarem seus prazeres.

-Quero.

-Relaxe, vou pôr seu nome na lista. E na quinta feira vá até esse endereço – me deu um cartão preto com escrita dourada – apresente e entre. Você irá se divertir.

-Sin!? Nome propício hein. Estarei lá.

-Aguardarei. Vou indo nessa. Tenho que levar mais alguns convites. – me beijou e saiu.

Naquela noite bebi algumas, e acabei me masturbando mesmo. Seria um saco arrumar alguém.

Então, chegou a tão aguardada quinta-feira. Coloquei meu melhor terno, desenterrei um perfume importado que tinha, tomei duas doses de uísque e fui.

Chegando no local, tudo estava escuro. Apenas um brutamontes aguardava na porta.

-E aí, meu bom? – dei o cartão com meu nome anotado já.

-Pode passar. – conferiu e entrei.

Dentro da “boate” o calor das pessoas já preenchia o local. A típica cena de drogas, extravagâncias e muitas pessoas afins de descobrirem o próprio prazer. O prazer é o princípio básico da existência humana. A utópica busca pelo prazer que nos preencherá. Porém já está provado que tudo que é bom não preenche. Ele te anestesia por um tempo até você precisar de uma nova dose. Assim é com dinheiro, drogas, sexo, solidão, religião, qualquer coisa que te deixe legal por alguns momentos. E ali não funcionava diferente.

Cruzei o salão desviando de gente nua, gente vestida demais, escravos sexuais, degenerados, e todos o tipo de gente que estava ali. Porém, o mais engraçado é que todos te olhavam com desejo, mas nenhum deles me abordava ou tentava algo forçado. Cheguei até Penélope.

-Bem agitado aqui hein, Pê?

-Olha só! Você veio mesmo. E aí que tá achando?

-Muito legal. Parece um dos meus contos. – dei uma risada – mas como funciona aqui?

-Tudo é possível. Desde que haja consenso.

-Tá, mas não tem algo que já posso ser inserido? Você me conhece bem, gata.

-Sabia… então, tá afim de sigilo?

-Sigilo é meu nome do meio, depois de orgia.

-Me acompanhe.

Ela cruzou o salão comigo pela mão, nos levando até uma porta vermelha. Lá estava escrito “cidade dos sonhos”.

-Então, meu bem. Aqui é onde vais apreciar o prazer de estar oculto. Ponha isto. – me deu uma máscara.

-Porra! Tá ficando bom, hein? Me deu uma máscara que transparece minha personalidade. Meu grande amigo Satanás.

Adentrou comigo, ela sem máscara porque tinha que ser reconhecida. E me apresentou aos demais. A loucura na rolava. Garçons serviam champanhe, uísque, cocaína e ecstasy a vontade. Lá haviam homens, mulheres, trans, gays, lésbicas, e todos os tipos de gente que você podia imaginar. E o melhor de tudo: ninguém te enchia o saco, tampouco lhe forçava a nada. Todos usavam máscaras, porém transpareciam o que realmente eram. Estavam nus de padrões e sociedade. Eram apenas humanos em busca de prazer.

Logo me sentei no meio de duas mulheres e dois velhotes que estavam muito cheirados.

-E aí? Tá afim de se juntar a gente? – perguntou um dos homens

-Se tiver mais mulheres, eu tô dentro sim.

-Sua primeira vez, né? – disse-me o tiozinho rindo – relaxa puritano, ninguém aqui tá afim de te comer. Vou chamar mais algumas pessoas pra festinha particular. Esperem aí.

Eu fiquei lá no meio daquela loucura. Cheirando, bebendo, fumando, tocando e sendo tocado. Nunca entendi porque um Deus tão bondoso condenaria aquilo ali. “Ah mas é um prazer vazio”. Me chupa! Uma trepada bem dada sempre me preencheu mais do que qualquer coisa na vida. Me condenem. Me julguem. Façam o que quiser, mas ser humano vive de prazer. Isso ninguém poderia mudar.

Dalí uma meia hora, me volta o tio com umas 15 pessoas.

-E aí, gente? Vamos pra VIP?

Com certeza. Foi o coro que ressoou. Todo mundo muito louco e cheio de tesão. Fomos levados por dois seguranças até uma sala com bem pouca iluminação quente. E aí começou a coisa de fato.

Me avancei em duas mulheres com máscaras de anjo e outra de ninfa. Eu realmente me sentia o dono do inferno. Havia travestis também, e uns 3 ou quatro tiozinhos se pegavam com eles. Seguravam nos seus membros enrijecidos, ao mesmo tempo que agarravam seus peitos. Eu achava aquilo tudo bem normal, afinal cada um tem o prazer do jeito que lhe foi proveitoso. Alguns não pegavam ninguém, apenas olhavam fixamente para a putaria, uns se masturbando e outros apenas admirando. Um desenhista, fazia uma nova obra em seu caderno, entre uma carreira e outra, da orgia.

Lá pelas tantas, eu já havia gozado umas 3 vezes. E eu e minhas amantes estávamos cansados. Paramos um pouco para admirar. Até que diante de nós pulou o tiozinho que chamou a galera.

-Olhem só! Eu amo isso. – enquanto transava com um travesti. Ele o penetrava e masturbava-o ao mesmo tempo.

A cena era admirável, pois jamais havia visto alguém atingir tanto prazer em um ato. Eu o invejava.

-Eu vou gozar! EU VOU GOZAR!  – gritava o tiozinho.

-Eu também!!! – gritava sua parceira enrijecendo ainda mais seu membro que gozou na mão do senhor. Ele lambeu e disse.

-Tira a máscara! Por favor! Eu quero gozar na sua cara! Você vai gostar.

Ela relutou um pouco, mas concordou. Tudo tem um preço. E quando a porra acertou em cheio o rosto dela, veio a surpresa pra todos.

-PAI???

-RENATO?!!?

Isso mesmo. Renato era filho de Júlio, grande deputado federal e ex-militar. Pra encurtar a história: Júlio sempre prezou pela moral e bons costumes, reprimindo seus próprios prazeres em casa, dogmando o filho, Renato, a seguir seus passos. E parece que seguiu. Renato era gay sim. Com muito orgulho aliás, porém não com tanto orgulho de seu pai.

O cenário ficou mudo. Algumas pessoas continuaram transando. Não as julgo. Não era problema delas. Mas eu pulei e tirei Júlio de perto do filho, que limpava a porra da cara soluçando de tanto chorar.

Os seguranças vieram e levaram os dois pra uma sala reservada, onde o problema seria resolvido. Pra mim a festa tinha chegado ao fim. Peguei minhas coisas e saí de lá. Tomei um banho frio, engoli um calmante cavalar e apaguei.

Acordei umas 12 horas depois com o noticiário dando um novo mártir.

-O nobre deputado Júlio Ferreira é encontrado enforcado em seu flat. A suspeita é de que, devido a perseguições políticas, o mesmo se matou para proteger sua família….- desliguei

Apenas pensei na frase: proteger a família.

Só conseguir exclamar: Às vezes a família fode tudo.

Yuri Cidade

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