– Eis me aqui, ó nobres semelhantes. Um cavaleiro andante que cruza não só a terra, como o próprio sol. Meu lençol ser de capa, sendo que minha espada é a língua espetando quaisquer idéias que surjam em meu cotidiano. Os planos, as guerras , tudo dentro do mesmo peito. Que pra anestesiar seu efeito, se embriaga na esquina, a tagalerar sobre a menina que queria amar. Ah vasto mar! Precedes um futuro incerto, no abraço de um redentor de peito aberto corre um rio de certezas, as quais jamais podereis anunciar. O chão batido é meu palco. Evito o asfalto pra ter com quem falar. Esqueço até de si, pra me encontrar, e no entoar de um acorde, por favor não me acorde antes das nove. O porre é um estoque de más escolhas, como as bolhas no meu calcanhar. Aprendi a amar e não reclamar, sendo que aceitar é a melhor escolha que tive para amenizar a síndrome do terceiro mundo. Pro restante, sou apenas um vagabundo a me encostar na loucura, visando fugir da vida dura de carregar uma pá. Na religião onde tudo é par, pobre é impar e sobra apenas o garimpo para suas mãos. A solidão faz meu destino, nos desatinos dos caminhos que formam a viagem. Paisagem e miragem são a mesma coisa no lugar onde sonhar é apenas bobagem, e arte é só um pedido de socorro. Os poços, os morros, as vielas e quebradas que margeiam as estradas, desenham em volta do palácio um complexo extraordinário. É tudo vidro, aço e branco, no qual o negro fica para as valas comuns que servem de fosso pro castelo. Quem com ferro fere, com ferro compra a moeda, alicia a comédia e se apresenta numa estréia midiática como o próximo salvador da pátria. Se a caatinga é árida, a gente devora o espinho, faz o ninho do barro que escorreram dos olhos de Mariana. Se engana se esqueço de feliz. Sou tão clichê, que arrisco dizer que da vida sou um eterno aprendiz. Se me culpo pelas escolhas que fiz? Só das que estavam diante do meu nariz. De resto, é tudo um tiro no escuro, no qual o futuro se esconde em cada coração brasileiro lotado de ilusão. Ah! Irmão, aceite meus gracejos. Pois não há um aqui sequer ileso de corromper-se a indagação. De antemão lhe digo sem firulas: somos apenas figuras repetidas de um álbum da copa de 70. Não temos nem a quinta emenda para apelar. Somos o que der nas ventas e damos risada do próprio sofrimento. Se brasileiro é sinônimo de tormento? Eu discordo de seu argumento. Ser brasileiro é ter talento, pois não há nada mais delicioso do que driblar até o vento parar sobreviver a imensidão. É chão, é barro, cerrado, caatinga e pantanal. Mas não há nada tão banal como o amor pelas curvas do meu Brasil.
Entre olhadas desconfiadas e xingamentos, pus-me a rir e segui com meu monólogo estrada a fora. A única figura que tem de mim agora, é apenas de um maluco montado em cima de um jumento. Para trás, ficaram a saudade e esperança, de que o amanhã traga em seus seios mais um único dia.
Yuri Cidade
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