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Foto do escritorYuri Cidade

Deliciosamente Louco

Minha realidade é relativa, prova viva do que eu sou e não do que apareço. Me esqueço sempre dos compromissos sérios, pois meu critério é simplesmente ser escravo das minhas fantasias. Rias de mim, enquanto desenho na minha parede, formas desconexas de personagens interligados por uma rede ilusória. Oh, Glória. Que seria de mim, sem minha insanidade? Pois a verdade só me mostra as faces de um triste Pinóquio, que sempre será feito de madeira e oco de propósito. A poeira em meus olhos, eu transformo em lágrimas ao sorrir pra ti, imaginando meu próximo caminho. Entre moinhos, vivo num paradoxo Don Quixote, perseguindo minha amada platonista e batalhando contra inimigos surrealistas. Surrealismo mesmo é o ar que respiro, de olhos fechados enxergo todo o mundo a minha volta como parte de um sonho abstrato. Nos meus quadros, cenas vivas do normalismo humano, secando suas mágoas com panos sujos e sorrindo falsamente para as câmeras ao seu redor. Viciados em ter dó. Normal pra mim é ofensa, visto que a doença é o que me faz sentir vivo. Sou filho adotado do perigo e não do realismo. Eu creio em mim e nos meus desconexos pensamentos, pois estes me levam a um mundo, o qual você nunca será propenso. Eu amo meu estado manicomial, porque ser louco, pra mim, é fazer o meu próprio real, ser dono de mim e do meu mundo. Sadio é ser moribundo e achar que o mundo é apenas o fundo de um poço, onde te jogaram para pagar pelos seus santíssimos pecados. O fardo só é pesado se carregado com desgosto. O oposto é ser maluco, insano e digno de falar sozinho, pois a maioria das pessoas me toma por um simples menino que nega-se a crescer. Eu vim pra nascer, e todo dia renasço ainda mais louco, deixando que poucos sigam-me pelas ruas a entender meus embaralhados textos. O pretexto disso tudo é simplesmente minha egocentricidade, porque o mundo só é vasto, se eu lhe der margem da minha realidade. Tal afirmação é tão verdade, que se te prendessem em um quarto de ambulatório, seu mundo seria um vasto corredor de um sanatório, pois jamais você saberia o que tem do lado de fora. Até mesmo desconheceria que um existe um lá fora. Se o agora pra você já é passado, deixe-me me comer seu mundo mal passado, o qual você mesmo já devorou as suas próprias asas. Em cada casa, um caso, um amor ou acaso, diagnosticando os fatos entre milagres e pecados. Ai de mim, ser julgado pelo santo normalístico. Eu quero mesmo é ser cínico e rir da sua cara, debochando das amarras que te prendem ao padrão. Em vão, é toda e qualquer observação sobre minha maneira de agir, porque eu jamais hei de me redimir por ter sido feliz. Filosofia não é minha desculpa, é simplesmente a culpa que carrego em satisfazer meu ego. Negam seus egos em prol de uma salvação ao final da vida, disfarçados de comportamento exemplar para exercer sua vontade suprimida. Aqui não, minha querida! Aqui o maestro conduz a orquestra fora do tempo, pois relativamente permaneço atento aos detalhes que desconectam seu comum senso. Intenso e propenso à queda, eu sei que sou, mas jamais hei de abdicar minha aventura para pertencer a sua postura. Pé no chão só se for descalço, correndo em disparada existencial, abolindo conceitos de bem e mal, e fazendo do mundo minha peça teatral. Desigual, anormal, irracional e profano, podem me xingar, mas eu serei sempre, de todos vocês, o mais humano. Se do teu cano só sai planos exatos, não me culpe pelo fato de eu não pertencer ao seu planeta. Pela minha luneta eu continuo vendo tudo distorcido, tão quanto tudo me faz sentido, enrijecido pelo meu cérebro que continuar a te dar um nó. Quando deparado com a dúvida eu comemoro e lhe imploro mais uma pergunta. Minha realidade está longe de ser exata, pois vivo em uma evolução nata, sendo taxada como canalha. Pelas calhas do meu juízo, escorre o sangue derramado pelos vivos, deixando que lhe encham os ouvidos com baboseiras pragmáticas. Assumo minha condição de primata, pois odiaria ter a sua posição de sociopata.

Entre julgamentos e quartos de hospício, assumo meus vícios e deleito-me da minha loucura. Deixo que minha almas seja impura e solte-se do padrão social. Jamais serei normal, e nem por isso máscara. Meu corpo é só uma casca que reflete meu recheio. Meu saco sempre estará cheio para correções idealizadoras alheias, pois na nas minhas veias corre o sangue de traste. Se quer previsões ou certezas, então se afaste, pois meu tempo é somente o agora. De hora em hora, minha realidade muda e eu mudo o planeta, fazendo de minhas canetas, ferramentas da criação divina. Loucura não é castigo, ser normal é que é uma sina.

Yuri Cidade

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