Vagava eu com folhas de um original na mão. Corrimão, escada, vala, sala, enormes e sinuosas curvas que fazia e nada encontrava. Em cada compartimento uma nova placa, uma alternativa, uma indicação de onde iria conseguir a informação que me levasse ao destino. Nunca acreditava em destino, pois não conseguia nem achar uma sala ou a localização de alguém. Mas de quem? Quem eu procurava piamente por entre aquelas paredes de concreto? A ansiedade já tinha me comido. Precisava de um cigarro amigo, mas por todos os lados, avisos de “PROIBIDO FUMAR” habitavam nas paredes, aumentando a sede do vício. Praguejava. Suava frio. Andar por andar, corredor por corredor. As pessoas se limitavam ao dizer:
–Próximo andar, querido. Já avisei da sua visita. Tenha um bom dia!
Que porra de dia pensava eu. Vagando sem nem saber o que procurava, apenas carregava meus originais na mão. Textos, poemas, poesias, até mesmo ânsias e agonias vomitadas em cartazes de protesto. Eu era um manifesto mudo, vagando por um mundo que se resumia em um prédio sem saídas ou limites. Era somente a cena triste de um escritor pedinte a vagar por entre suas comportas. Portas, rodas, mesas e cadeiras, tudo ficou vazio. Silêncio absoluto. As luzes foram se apagando uma a uma. Corri desesperado mas me encontrava num labirinto de escadas. O sistema de som avisara:
– Estamos fechados. Dirigiam-se a saída.
Só ouvi o clique. E todas as portas se fecharam na minha cara. As paredes me espremiam e meus papéis voaram pela única janela aberta. Me apeguei a ideia, e mergulhei por ela. Despenquei num abismo escuro, somente contrastado com meus papéis se separando e voando um a um por milhares de caixas de arquivo. Eu morria, mas me sentia vivo. E quando tudo se escureceu, floresceram meu olhos. O dia já havia raiado. 9:00 da manhã. O amanhã já era hoje. Como quem devora um prato frio, me atirei sobre a escrivaninha e escrevi tudo que havia visto naqueles cartazes e papéis. Os anéis, as vigas, as vidas de cada personagem que faziam parte do meu personagem. Acabei a contagem e sai para comprar cigarros. Na cabeça apenas as salas e corredores por onde deslizei. Vi a vida como fatos poetizados e arquivados dentro de mim mesmo. A cabeça já não havia mais peso. Perguntei sorrindo ao caixa do mercadinho:
– Onde tem cigarros?
– Corredor C, senhor.
Yuri Cidade
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