As moedas no meu bolso chocam-se entre si, assim, como me choco com os demais seres. Entre os poderes, apenas o gosto de se fazer invisível. Imprevisível, me faço esquivo e driblo a maneira robotizada de se viver. Acordar, é ver o reflexo de cada ser em sua essência profunda. Minha alma é tão imunda quanto qualquer outra, mas nem por isso eu cuspo na sua louça recém lavada. Escada após escada, padeço no país do submundo, fazendo do meu dia, inúmeros lapsos de caminhadas que levam nada a lugar nenhum. Talvez eu precise de mais uma dose de rum e um filme estrangeiro, para esquecer que toda e qualquer gentileza nesse mundo, é visando o dinheiro. Emprego, desterro, sem medo e implorando sossego, assim segue o brasileiro se esquivando da cultura maléfica do capital, deixando que seus filhos tomem por mal, serem o que são. Remédios em vão para um câncer social. Sou o aborto do descaso, fez meu fardo ser tão pesado por minha conta bancária ser tão leve. Há ainda quem reze no planalto, defendendo o assalto “legal” contra as verbas sociais. Os filhos de satanás disfarçados de santo. Aos prantos as mães choram, as crianças imploram, o cidadão de bem ignora e deixa passar a hora, pois no seu prato, ainda há o que jantar. Talvez eu devesse me atirar no mar e morrer fisicamente, pois inconscientemente meu ego já chutou o banco que me mantinha em pé na corda. Estamos sempre por um fio, seja na corda bamba ou no laço de uma forca. A força só existe pra quem teima em ser livre. Deslize seu veneno em outro ambiente, pois jamais conseguirão corroer minha mente. Acidente de percurso, corro o mundo sem sair da minha sala. A lei da bala é a próxima brisa da balada. Alta ideia, alta classe, impasse de quem fuma crack e é considerado problema social. Haja água em Mariana tanto quanto haja petróleo no pré-sal. É revoltante, o ser como a estante dos pecados alheios. Sem receios, eles continuam impondo o poder do medo e da tortura, implantando a ditadura na sua forma mais pura, abalroando quem pensa diferente. Te abraçam e mostram os dentes. Semente que cai na terra e floresce a vida em meu jardim, me deixe pra sempre um arlequim a pular na quarta feira de cinzas. Essa é a cor do meu céu. Já não há mais nem papel para enxugar as lágrimas de um povo que se rende ao porre. Corrói, destrói, e põe a culpa no anti-herói que teimou em escrever certo por linhas tortas. Julgamentos em vão, piadas de desespero e o maior desprezo pela classe baixa. A faixa negra estampa as janelas da favela. Todo dia é dia de luto, cidadão puto e chacina televisionada. Em cada esquina, a presença derrotada daquele que teve a infância roubada pelo sistema meritocrata do coronel sociopata e sua direita armada. Os joelhos ralados imploram menos escadas para subir em procissão. A reza em vão preenche o copo, banha os corpos e desaguá na solidão encarcerada. A cera da vela tarrada, esconde o pedido uma morte rápida. Ah pátria amada, por que não ama teus filhos? Onde foi que perdemos o trilho do próximo trem para evolução?
A sofreguidão corrói meu teto, deixando-me aberto à chuva ácida da classe ditatorial. Arde, queima, derrete e me molda como mero padrão comercial. Artista é só um marginal que prefere mendigar a vida em cada quadro ou folha de papel. Todo mundo é réu, todo mundo é juiz, todo mundo é promotor, mas pra ser doutor só sendo filho de desembargador. Sistema escolar seletivo elitista, administra a discórdia e a orgia da hierarquia fictícia. “Todo mundo é igual”, mas no boleto mensal, só o do pobre vem com os juros do estigma de estar sempre em apuros para consegui armas pra lutar pelas mesmas oportunidades. A idade é só um detalhe pra servir como desculpa para baixarem a maioridade penal. Corações de metal com mentes de papel, juntam-se aos bandos para fundarem o santo bordel da bancada do anel. De relance, largo a caneta, esperando que o dia se derreta em minha janela. Balas cortam o ar, emudecendo os pássaros. O cansaço faz de mim um escravo do descaso e busco o adormecer no próximo ato. Nada é fácil, tão pouco é bonito, neste pais do “aparecer pra ser visto”, me omito do restante dos vícios e espero a próxima queda de um míssil.
Yuri Cidade
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