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Foto do escritorYuri Cidade

A sombra

Andei por dias ao redor de mim e do mundo, e nem por um segundo ele desgrudava seu bafo no meu cangote.  Eu era apenas um fantoche que corria da mão invisível. O nível de sanidade baixou a nada. Pelas escadas andei sobre o zero, meus credos e minhas superstições. Opiniões distintas da mesma coisa repetida em parágrafos diferentes. Indigente. Até da minha gente eu consegui me afastar. Rodei de bar em bar, amores en amores, porres, fodas e estados de consciência alterados, mas sua presença era como se um martelo caísse em cima de mim após cada orgasmo. Os fatos já não mais faziam sentido ao seu real tempo, ou se é que eu já não tinha perdido toda noção de tempo, como um moinho sem vento, que de nada serve senão para não existir. Desatei a rir, passar noites e mais noites sem conseguir escrever uma maldita linha. As damas minhas já haviam se esvaído com a tinta de caneta que acabara. Minhas folhas só recebiam o vômito, mas de ressaca. Que praga! Logo eu tão canalha com as palavras. Sua risada explodia meus cigarros. Tragos e patos nadando juntos na minha banheira de restos. Os mesmos pedaços que ele carregara em sua presença. Cansado de tanta teoria extensa da minha atual sanidade, me rendi a realidade e virei-me para trás, para ver quem era meu perseguidor. Nada mais topor que aquele retrato. O que me perseguira, nada mais era do que o passado.

Yuri Cidade

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