Distópico. Meu mundo de papel se tornou uma tesoura, que cortará meus sonhos ao meio. Os devaneios me cegaram, enquanto que os anseios tormentavam numa espera infinita. Tédio, remédio, zica, pica e minhas moedas se chocando no bolso. Um terço satânico entoava seus cânticos numa sala de aula vazia. Não de gente, mas sim de mentes. Meus dentes cerravam a medida que meu pulso apertava formando um soco de raiva por não estar fazendo nada. As escadas não levavam a nada, perdido em si, andei em círculos em volta da mesma mesa. As mesmas histórias, as cadeiras amarelas e a agonia de estar inerte. Um flerte com uma dama desconhecida que voltou a colocar seus fones de ouvido, como quem diz: “Não comigo.” Pro inferno! Abri meu caderno e dediquei-lhe um poema. Vã esperança de que um dia minhas linhas a levem pra cama. Mente humana trabalha pela presa. Tornei a rir na paciência que tudo aconteça e a flor de copas desfloreça nos meus copos vazios de ressaca. As marcas, as falhas, as telhas do meu juízo sendo quebradas uma a uma. Até me sinto leve como um pluma, mas carrego o peso do mundo. Do meu mundo. Solitário, escuro e tormentoso. O fosco olhar de quem espera devorar almas aleatórias. É tudo um truque? Ou estou mesmo vivendo minha história? “Simplórias horas, senhora da vida, porque tendes a me fazer escravos das tuas medidas?” Só quero uma saída. Um fim. Um último gole para que a tosse não me leve. Quero que por baixo das tuas saias você me carregue. Falta prece pra tanta fé. A colher que carrega o xarope da realidade, me empurrou goela abaixo um óleo de rícino me embrulhando os sentidos e o estômago. Antagônico, meu tempo se desfaz novamente na espera de alguém sair por aquela porta e torna a dizer: “estou aqui” Mas tudo que saiu, fora apenas um guarda me dizendo: “Fora daqui, vagabundo! Aqui é lugar de estudo e não de aventuras.“ Pude sentir o soco da amargura a me acertar com sua peste. As vestes nunca condizem com a função, pois nesse mundo cão, todo dia é dia de brincar de policia e ladrão. Manifestação calada de um ser gritante que se faz gigante quando se encolhe nas palavras. Talvez eu seja assim, um mutante em desconformidade com meus passos. Meus traços perdem o rebolado e tudo acaba no mesmo instante. Ofegante sentei-me solitário a mesa. Rodeado de gente, mas abandonado pela vida. Continuo à espera. Não sei nem do que. Mas desse mundo, eu desisti de pertencer.
Yuri Cidade
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